Um livro muito interessante que encontrei no V Festival Nacional da Cultura, que está a decorrer em Xai Xai.
Psicologia Educacional: Uma Perspectiva Africana
Tuntufye S. Mwamweda
Texto Editores
Um livro muito interessante que encontrei no V Festival Nacional da Cultura, que está a decorrer em Xai Xai.
Psicologia Educacional: Uma Perspectiva Africana
Tuntufye S. Mwamweda
Texto Editores
As ligações entre HIV e doenças mentais têm tantas camadas e são tão pouco compreendidas, que os médicos geralmente têm dificuldades para determinar o que apareceu primeiro.
Os profissionais da saúde mental na África do Sul por vezes lutam para entender as causas da psicose ou demência do paciente, sem saberem que o paciente tem uma infecção por HIV em estado avançado, enquanto seus colegas no sector de HIV/SIDA têm pouca ou nenhuma formação sobre como lidar com pacientes com doenças mentais.
“Não há serviços específicos de saúde mental para pessoas vivendo com o HIV”, disse o professor Melvyn Freeman, co-autor de um estudo realizado pelo Conselho de Pesquisa em Ciências Humanas (Human Sciences Research Council) da África do Sul, que concluiu que 44 por cento de uma amostra de 900 indivíduos seropositivos sofriam de alguma forma de perturbação mental.
Doenças mentais podem, elas próprias, constituir factores de risco para infecção por HIV. Algumas perturbações mentais levam a maior promiscuidade; outras podem tornar os pacientes mais vulneráveis a abuso e exploração sexual. Mesmo a depressão pode aumentar o risco de HIV no indivíduo.
“Quando sentes que não há muita razão para a tua própria sobrevivência, não vês necessidade de tomar precauções par te protegeres”, observou Freeman, que aconselhou a Organização Mundial da Saúde sobre como melhor integrar a saúde mental nas suas iniciativas para o HIV/SIDA.
Inversamente, pessoas com HIV têm mais probabilidade de desenvolver doenças mentais do que a população em geral. Os efeitos que o HIV pode ter na saúde mental vão desde depressão e ansiedade, que podem acompanhar o diagnóstico de seropositivo ou a morte de entes queridos, até a demência e psicose, que podem ocorrer quando a doença se torna mais avançada e afecta o cérebro.
“Um dos nossos maiores desafios em psiquiatria é essa epidemia,” disse Greg Jonsson, um psiquiatra no grande hospital Chris Hani Baragwanath, nos arredores de Soweto, a favela mais populosa de Johannesburg.
“Na verdade nós não somos formados em HIV; (os psiquiatras) enviam estes doentes para clínicas de tratamento antiretroviral, mas aí o problema é que eles não são formados em psiquiatria”, continuou.
O resultado final, disse Jonsson, era que pacientes com problemas psiquiátricos são marginalizados e muitas vezes excluídos do tratamento, com o argumento de que eles não são considerados capazes de se lembrar de tomar os comprimidos todos os dias. Falhas durante o tratamento com ARVs resulta no desenvolvimento de formas de resistência do virus às drogas, que são ainda mais difíceis de tratar.
“Sabemos que pessoas que têm doenças neuro-psiquiátricas relacionadas com o HIV respondem aos ARVs”, disse Rita Thom, uma psiquiatra na Universidade de Witwatersrand que investigou doenças mentais em seropositivos. Garantir que os pacientes recebam os medicamentos é o primeiro grande obstáculo, acrescentou Thom; ajudá-los a aderir aos medicamentos é o segundo.
Tudo em uma única parada
Com financiamentos do Instituto Aurum para Pesquisas em Saúde (Aurum Institute for Health Research), uma organização médico-científica independente, Jonsson, com uma enfermeira, uma terapeuta ocupacional e uma psicóloga, decidiram abrir uma clínica especial na secção de psiquiatria de Baraguwanath para pacientes seropositivos que também sofriam de doenças mentais.
"O objectivo é tratar o HIV e também tratar as doenças mentais, porque nas clínicas para ARV eles estão tão sobrecarregados que não detectam depressões, demências e ansiedade,” disse Jonsson.
Desde Março, a clínica tornou-se uma parada única: pacientes recebem tanto a medicação psiquiátrica quanto para o HIV, encontram-se com Jonsson e, se puderem, participam num grupo de apoio.
O encontro de grupo, numa recente sexta-feira, a princípio procede como qualquer outro.
''Não há serviços específicos de saúde mental para pessoas vivendo com HIV.''
Linda* fala apaixonadamente sobre a diferença que o ARV fez na sua saúde, enquanto Zanele* exprime a sua hesitação em iniciar um regime de medicação para a vida toda. A facilitadora explica a diferença entre HIV e SIDA, e mostra como os medicamentos do ARV podem ajudar, mas que não são uma cura.
“Então o HIV não tem cura?”, pergunta Sipho*, um jovem usando um boné de baseball, que esteve calado até então.
Pacientemente, a facilitadora reitera que o virus pode ser controlado com os ARVs, mas que ainda não tem cura.
“O que são os ARVs?” pergunta Sipho*, que depois não pode confirmar se está já a tomá-los.
Claramente, este não é um grupo de apoio comum. “Muitos de vocês estão aqui porque não só têm HIV, mas também têm uma outra doença,” disse a facilitadora, e o debate toma um novo contorno.
Sipho diz ao grupo que sofre de esquizofrenia. “Eu tinha a voz de uma Gogo (avó, no dialeto zulu) a falar através da minha garganta”, diz, demonstrando com um rosnar estrangulado. “A minha mãe me disse que devo ver um médico. Agora estou bem.”
Zanele confidencia que ela é bipolar: por vezes ela fica muita zangada e triste, e outras vezes muito alegre.
Linda está a recuperar a memória depois de permanecer em coma por duas semanas. “Eu não lembrava de nada até a semana passada. Foi muito assustador,” disse ela mais tarde.
Ela acredita que o coma foi provocado por stress causado por membros da sua comunidade. “Eles viram-me perder peso e riam-se de mim; disseram ao meu namorado que eu era seropositiva e ele me abandonou. Fiquei muito estressada”, disse.
Embora o stress possa ter desempenhado algum papel, segundo seu médico, foi uma doença relacionada ao HIV – meningite tubercular – que levou Linda a cair em coma e subsequentemente perder a memória. A sua relativamente rápida recuperação em semanas recentes é provavelmente resultado de ela estar a tomar drogas para a TB e depois começar o ARV em princípios deste mês.
”A minha irmã costumava ter que me lembrar (de tomar os comprimidos), mas agora ela não precisa mais”, disse Linda, orgulhosa.
Sem directrizes
Não existem orientações especiais sobre como adaptar o tratamento do HIV/SIDA para as necessidades especiais de pacientes psiquiátricos mas, segundo Jonsson e Liselle De Wee, a psicóloga da clínica que faz a mediação no grupo de apoio, a educação desempenha um papel vital para ajudar os pacientes que acham difícil aderir aos programas de medicação.
A equipa da clínica frequentemente repete e reforça a informação sobre como os pacientes devem tomar a medicação e os encoraja a escolher um “parceiro” de tratamento – um membro da família ou amigo que lhes vai lembrar de tomar a medicação diária.
“Pessoas a recuperar de uma psicose podem não ser capazes de digerir informação como outras pessoas”, disse De Wee, depois do encontro de um grupo de apoio. “Tens que sempre verificar se a ficha caiu.”
Enquanto os ARVs tratam a infecção e geralmente ajudam na demência relacionada ao HIV, outras drogas podem ser necessárias para gerir doenças mentais não relacionadas a ele, como esquizofrenia.
Segundo Jonsson, interacções entre os dois conjuntos de medicamentos são uma outra fonte de “enormes problemas” que ainda requerem mais investigação.
Serviços de saúde mental são escassos
Tirando a nova clínica em Baragwanath, que tem apenas cerca de 45 pacientes, o sector de saúde pública da África do Sul não tem serviços especializados de saúde mental para seropositivos. Psiquiatras e psicólogos preparados para trabalhar para o estado são raros, e aqueles que desejam trabalhar na área do HIV são ainda mais raros.
“Os outros psicólogos no meu departamento, nem todos querem envolver-se com isto. O HIV é muito extenuante e eles têm outros interesses,” disse De Wee, que é voluntária na clínica. “ Tenho uma paixão para isto, e se não fosse por isso eu certamente não estaria aqui.”
A necessidade de incorporar os serviços de saúde mental ao tratamento do HIV/SIDA é clara. “Os modelos são: ou trazes profissionais especializados em saúde mental para o serviço de HIV/SIDA, ou formas os profissionais de HIV para lidar com ela; o que provavelmente deve acontecer é um pouco das duas,” disse Thom, da Universidade de Witwatersrand.
“Os serviços de saúde mental são tão subdesenvolvidos na África do Sul que se pudéssemos ligar-nos aos serviços de HIV, podíamos melhorar os serviços para todos.”
Fonte: PlusNews