Os últimos dados fidedignos sobre o suicídio em Portugal são de 2002 - último ano em que todos os atestados de óbito foram verificados -, revelam que a média diária era de quatro casos e que o suicídio era uma das causas de morte menos evidenciada no país.
O psiquiatra Ricardo Gusmão, coordenador deste programa em Portugal explicou hoje, numa apresentação aos jornalistas, que a «taxa de suicídio em Portugal está artificialmente reduzida, em menos 25 a 50 por cento, por deficiência no processo de registos de óbitos», pelo que, conclui, «pelo menos seis portugueses morrem por suicídio todos os dias».
O psiquiatra, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, explicou ainda que a taxa de morte violenta por intenção indeterminada é em Portugal a mais elevada da Europa.
De acordo com o especialista, desde 2003 que os atestados de óbito deixaram de ser totalmente confirmados, voltando a surgir causas indeterminadas, por estigma da doença, razões religiosas ou outras.
Tentar travar a incidência da depressão e consequentemente do suicídio é o objectivo da Aliança Europeia Contra a Depressão (EAAD - sigla em inglês), cuja implantação em Portugal começou no ano passado, iniciando-se agora o programa no terreno.
O programa, que se desenvolve em 16 países europeus, está a desenrolar-se nos concelhos de Cascais e Oeiras e está previsto alargar-se ao resto do país.
Com o objectivo de detectar precocemente a depressão e de optimizar a prestação de cuidados a doentes deprimidos, o projecto da EAAD desenvolve-se em quatro fases: Formação e cooperação com a comunidade médica, relações públicas, cooperação com parceiros e oferta de apoio a doentes e familiares.
Desde Novembro que foram já formadas cerca de 60 pessoas, entre pessoal médico e de enfermagem, o que corresponde a um quarto do universo total dos centros de saúde dos dois concelhos-alvo.
O projecto evoluirá para a formação e sensibilização da comunidade, como seja professores, padres e associações. No campo da oferta de apoio a doentes e familiares, é intenção criar um «cartão de emergência» informativo para pessoas que já tentaram o suicídio.
De acordo com Ricardo Gusmão, este cartão fornecerá os contactos das instituições que poderão ajudar a pessoa em risco.
Só o Hospital S. Francisco Xavier, para onde são encaminhados os doentes psiquiátricos de Cascais e Oeiras, recebe diariamente entre quatro a cinco parasuicídios (tentativas falhadas).
O projecto vai também avançar na promoção de cartazes, spots publicitários, panfletos informativos, brochuras com informação do género: «A depressão pode atingir qualquer pessoa em qualquer momento», «A depressão tem tratamento» e «Nós podemos ajudar».
Portugal recebe, para 30 meses, 56 mil euros da União Europeia, mas o projecto custa 90 mil, sendo que a diferença será suportada por outras entidades nacionais, exceptuando donativos da indústria farmacêutica, sublinhou Ricardo Gusmão.
Este projecto é realizado nos mesmo moldes de outra experiência feita em Nuremberga (Alemanha), que em dois anos conseguiu reduzir a taxa de suicídio em 20 por cento (um quinto).
Fonte: Lusa/SOL