Há uma palavra simples para descrever o objectivo de todos estes sonhos ou aspirações. São todos caminhos, em última análise, para conseguir ser feliz.
Alguns de nós vão conseguir aquilo que querem, outros não. A questão mais interessante é: porque é que as pessoas que conseguem aquilo que querem quase nunca ficam tão felizes como esperavam, enquanto as pessoas que falham os seus sonhos quase nunca ficam tão tristes como temiam? Algumas experiências sistemáticas mostram que ao mesmo tempo que sustentamos fortemente os nossos sonhos e que tememos recuos, somos fracos a julgar o que nos fará felizes ou infelizes.
Daniel Gilbert, psicólogo de Harvard, tem dedicado todo o seu trabalho a tentar perceber por que é que as pessoas se enganam nas previsões do que as fará felizes, mas também por que é que insistem nos mesmos erros uma e outra vez.
Gilbert defende que o fenómeno tem muito em comum com a forma como os pais se relacionam com os seus filhos. Depois de décadas de esforço e sacrifício, os pais ficam chocados quando as crianças dizem: "O que é que vos faz pensar que fazer tudo isto me fará feliz?" Da mesma forma, o especialista argumentou em diversos estudos e no seu livro de 2006, Tropeçar na Felicidade (editora Estrela Polar), que a pessoa que seremos no futuro terá dificuldades em perceber as escolhas e decisões que tomou hoje.
A 31 de Dezembro, o seu estudo sugere que a pessoa ingrata que seremos no futuro provavelmente nunca perguntará: "O que é que o fez pensar que eu seria mais feliz se fosse mais rico/magro/casado/divorciado/empregado/reformado?"
O psicólogo de Harvard afirma que a nossa incapacidade para fazer previsões correctas sobre aquilo que nos fará feliz deriva de um processo com o qual as pessoas estão mais ou menos familiarizadas - a nossa mente está desenhada para ver o mundo como ele é agora, em vez de tentar ver o tipo de pessoa em que nos tornaremos. Perceber isto não fará as pessoas mais felizes, mas talvez as ajude a perceberem-se melhor a elas próprias e às suas escolhas.
Regra 1Querer tudo ao mesmo tempo é mau, excepto quando não éDividir as coisas boas ao longo do tempo é uma das regras intuitivas que as pessoas seguem e na qual vêem sentido. Se tiver 100 unidades de felicidade para um ano inteiro, não faz sentido gastá-las todas num só dia e viver miseravelmente os outros 364 dias. Esta ideia foi comprovada em algumas experiências, onde se mostrou que, por exemplo, dois presentes de 50 euros fazem as pessoas mais felizes do que apenas um de 100.
"O primeiro milhão que uma pessoa ganha tem mais significado do que o segundo", disse Carey K. Morewedge, investigador de Ciências Sociais e da Decisão na Universidade Carnegie Mellon. "Depois de um determinado ponto, você torna-se insensível a ganhos do mesmo tamanho", acrescentou.
No entanto, num artigo publicado no Journal of Experimental Psychology, Morewedge mostrou que a intuição falha quando os bens em questão são demasiado pequenos. É comum as pessoas irem duas vezes a restaurantes de preços moderados em vez de optarem por um verdadeiramente bom, mas acabam por perceber que nenhuma das refeições as satisfaz.
Há uma quantidade mínima de prazer, por outras palavras, que deve ser tida em conta antes de se sentir qualquer tipo de satisfação. Pessoas diferentes têm distintos pontos de partida, mas dividir os prazeres abaixo desse ponto inicial resultará em menos felicidade, nunca mais.
A descoberta tem especial importância para os nutricionistas, que serão agora capazes de explicar por que é que algumas pessoas abandonam as suas dietas. Partir duas bolachas em quartos e comer um pedaço de cada vez ao longo de oito dias é um comportamento que provavelmente não produzirá nenhum tipo de felicidade. O melhor é comer as duas bolachas de uma só vez e, depois, esperar uma semana antes de comer mais duas.
Regra 2A felicidade vem muitas vezes daquilo que desconheceNo geral, as pessoas não gostam da incerteza e esforçam-se por afastá-la das suas vidas.
Mas numa série de experiências publicadas em 2005 no Journal of Personality and Social Psychology, Gilbert e os seus colegas mostraram que as pessoas que recebem presentes sem razão aparente se sentem mais felizes do que aquelas que recebem presentes idênticos por razões claras. Os participantes também referiram sentir mais prazer quando têm um elogio por parte de um desconhecido do que por parte de alguém que sabem quem é.
"Quando não temos certezas sobre a natureza, causa ou significado de um acontecimento, isso amplifica as consequências emocionais desse mesmo acontecimento", explicou Gilbert em entrevista. "Quando não percebe por que é que uma coisa má aconteceu, ainda é pior. Quando não percebe por que é que uma coisa boa aconteceu, é melhor." Enquanto a incerteza sobre coisas negativas e perigosas é desagradável, os psicólogos defendem que as pessoas insistem em aplicar de forma insensata este mesmo princípio às coisas positivas. Como pode alguém aplicar esta ideia às suas vidas? Se souber que uma comédia romântica termina com um final feliz, escreveu Gilbert num estudo, considere sair da sala antes de o filme acabar.
Regra 3Manter as suas opções em aberto não o fará necessariamente mais felizQuando é dado a escolher, as pessoas preferem manter as suas opções abertas. Quando os investigadores perguntaram aos participantes se preferiam levar um "poster" para casa que teriam de manter ou um que pudessem mudar mais tarde, a maioria das pessoas preferiu esta última opção. Ainda assim, foram as pessoas que fizeram a escolha irrevogável que acabaram por ficar mais felizes com os seus "posters".
Gilbert disse que a descoberta lhe deu vontade de ir para casa e pedir a sua companheira em casamento: "Sempre pensei que o amor levava ao casamento, mas a minha namorada disse que o casamento é que levava ao amor." E acrescentou: "Quando uma pessoa se encontra numa situação da qual não pode sair, encontra sempre formas de ser feliz.. Amo mais a minha mulher do que amei a minha namorada e são a mesma pessoa."
Regra 4As coisas que teme não são tão más quanto possa pensarO psicólogo Daniel Gilbert sublinhou que várias experiências demonstraram que as pessoas sobrestimam quão infelizes ficarão depois de um evento trágico, o que faz com que evitem arriscar ao longo da vida.
Dividido entre as escolhas da vida? Os resultados das experiências sugerem que a pior opção é sempre a indecisão - não importa a escolha que as pessoas fazem, é mais provável que se sintam bem com as consequências das suas acções do que se estiverem na defensiva.
Porque é que sistematicamente falhamos nas previsões de como seremos felizes ou infelizes? Por alguma razão, prever o futuro é inerentemente difícil. Mas, mesmo quando sabemos o que vai acontecer, baseamos as nossas estimativas de felicidade futura na pessoa que somos hoje. Assim, falhamos por não percebermos que seremos diferentes amanhã, mas também por não vermos que as coisas que procuramos mudarão aquilo que somos.
Quando tentamos explicar um mistério agradável ou evitar riscos que nos podem trazer amargura, procuramos desesperadamente algum símbolo de sucesso. O que não conseguimos dar valor por antecipação é como vamos absorvê-los com rapidez e seguir em frente.
"Desde sempre as pessoas tiveram sede de informação sobre o seu futuro, confiantes que, se soubessem o seu destino, também saberiam as suas fortunas. Mas conhecer o futuro não é o mesmo que saber quanto gostará uma pessoa dele quando lá chegar", diz Gilbert.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
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