Esta semana fui contactado pela Ana Markl, jornalista do semanário Sol, que pretendia realizar um artigo sobre fóruns de Internet sobre suicídio, um fenómeno muito popular entre os jovens do País de Gales. Podem ler aqui o artigo que foi publicado hoje e para o qual dei o meu contributo.
Informação adicional que por limitações de espaço não pode ser publicada no artigo do Sol.
Fóruns na Internet sobre SuicídioA partilha, não acompanhada por um profissional de ajuda (psicólogo, psiquiatra, psicoterapeuta), de estados depressivos e desejos de cometer suicídio na Internet é um enorme risco para os jovens. Em conjunto os jovens alimentam os seus estados de espírito e fortalecem a vontade de passar à acção. Discutem métodos e partilham conhecimentos. Ao mesmo tempo, o fenómeno de grupo autentica os seus desejos sem qualquer limite. De repente todos (os companheiros do seu mundo, neste caso virtual) afirmam que o suicídio é um a coisa perfeitamente normal. Uns puxam pelos outros sem que alguém coloque um travão.
Não parece que nos grupos de Internet sobre o suicídio, os jovens se escutem verdadeiramente uns aos outros, que procurem compreender o sofrimento do outro. Não creio que os membros destes grupos se ajudem entre si a encontrarem soluções para os seus problemas. O grupo acabam por validar o desejo de suicídio de cada membro e facilita a concretização do comportamento que pode, nos casos mais extremos, levar à morte. A estes jovens que se encontram emocionalmente instáveis e os grupos de Internet podem servir como um empurrão para cometerem suicídio.
Sites de Homenagem aos Jovens SuicidasEnquanto profissional de ajuda psicológica, estou particularmente preocupado com esta ideia romântica da morte expressa nos muros de memória que foram criados em alguns fóruns e páginas de Internet como homenagem aos jovens falecidos. É importante que se transmita a mensagem de que a morte destes jovens foi uma enorme perda e tragédia. Foram vidas desperdiçadas. São pessoas que chegaram a um limite de sofrimento e que não conseguiram encontrar soluções positivas e construtivas para os seus problemas. O suicídio decorre sempre como resultado de sofrimento psicológico, perda de auto-estima, isolamento, desesperança, constrição da mente e fuga como a única solução.
Suicídio como moda?Pesquisas efectuadas nos Estados Unidos da América indicaram que os jovens que cometeram suicídio conheciam, em maior número, um amigo ou familiar que cometera suicídio, comparativamente com os seus pares.
O momento pós suicídio parece ser uma altura crítica e perigosa para todos aqueles que estão próximos do falecido, uma vez que se identificam profundamente com a vitima e estão emocionalmente muito vulneráveis. A descarga emocional que surge após a morte de alguém próximo pode fazer desaparecer a censura interna e limitações para comportamentos auto destrutivos. Outras investigações demonstraram que a exposição ao suicídio ou a comportamentos suicidas de amigos ou familiares é um factor muito significativo na influência de jovens emocionalmente vulneráveis para cometer suicídio. Estes são dados importantes que nos fazem compreender melhor o que poderá ter acontecido no País de Gales.
Divulgação de métodos de suicídio na InternetDeviam ser monitorizados e retirados da Internet. Outra solução poderia ser a colocação de uma mensagem de alerta muito visível a indicar que o conteúdo é perigoso e em simultâneo indicar contactos de linhas telefónicas ou serviços de apoio psicológico. As entidades oficiais de apoio a crianças e jovens, assim como pais e educadores deveriam estar atentas a estes conteúdos e alertar para os perigos dos mesmos.
Soluções e intervençõesParece-me que a solução passa por disponibilizar, desde cedo, serviços de aconselhamento psicológico a crianças e jovens. Estes serviços poderiam estar mais disponíveis em escolas, universidades, bairros e associações locais, promovendo desta forma a saúde mental de crianças e jovens. Outra solução passaria por divulgar melhor as linhas de apoio telefónico que já existem para pais e jovens. Sabemos que é importante chegar às pessoas. Uma boa campanha publicitária poderia ajudar a divulgar o problema e as respostas de ajuda. Prevenção, divulgação e disponibilidade dos serviços de ajuda são as palavras-chave. É essencial ter profissionais disponíveis nas escolas para escutar, compreender e aceitar as crianças e os jovens. Existem sinais clássicos aos quais pais e professores podem estar atentos acerca de um jovem que possa estar a pensar cometer o suicídio, como por exemplo, comentários sobre a morte ou suicídio. Por vezes, ocorrem outros sinais tais como a preparação de documentos, a oferta de objectos pessoais de valor sentimental ou escrevendo cartas aos amigos e familiares. Ao contrário do que se pensa, as pessoas que cometeram suicídio expressaram algo sobre as suas intenções. Amigos, família e professores devem estar atentos a estes sinais.